quarta-feira, 6 de junho de 2012

Greve

Já somos 80% das universidades federais de greve e a tendência é que esse número aumente ainda mais, inclusive aqui na Unifei onde estamos em "indicativo de greve", com votação no dia 12/06. A nossa sorte é que temos muitos professores que dão aulas há muito tempo e conhecem melhor a situação para tentar convencer os mais novos de que a greve não faz muito sentido. De outro lado é a pressão do movimento que está cada dia maior, junto com a opinião pública dos que compartilham fotos do apartamento do Michel Teló no facebook.


O que vai acontecer todos já sabem: ninguém sairá satisfeito nessa história... nem o governo que terá que gastar mais, nem os professores que serão obrigados a voltar com um aumento aquém do esperado, nem os alunos que perderão aulas, oportunidades de estágio e de emprego, nem o contribuinte que pagará a conta no final (a maioria nem chega a ficar insatisfeita porque não sabe o que está pagando).

Na minha opinião o professor universitário já ganha bem. São mais de R$6.000 no início da carreira (fora benefícios), sendo que você não precisa ser bom no que faz, basta ter um doutorado, passar no concurso (que muitas das vezes sobram vagas) e não pisar muito feio na bola que você terá seu emprego para o resto da vida. Muitos querem comparar com o salário de um bom engenheiro em uma empresa, mas se esquecem de que ele pode muito bem ser despedido amanhã por não ter rendido o esperado, por um erro qualquer, por uma dificuldade financeira da empresa, ou até mesmo se o chefe não for muito com a cara dele. Já diziam os economistas: "A diferença entre 'risco' e 'rico' é o 's' de 'segurança'." Espere a próxima crise pra ver quem estará em melhor situação. Não estou defendendo que obter um doutorado é fácil, só estou dizendo que é 'seguro demais', além do que não acho que tenha uma relação direta a competência de um educador com a posse de um doutorado.

Mesmo assim, para quem acha que os professores universitários brasileiros não são bem pagos, eles ocupam a 18ª posição entre os mais bem pagos do mundo ( http://www.revistaensinosuperior.gr.unicamp.br/noticia.php?id=78 ), sendo que o nosso PIB per capita é o 70º, e a educação superior brasileira está longe de ser a 18ª melhor (apenas a USP está entre as 100 melhores universidades do mundo).

Enquanto isso, no ciclo básico, acontece o contrário. Temos um dos piores salários do mundo, porém neste caso a qualidade também acompanha. E nem por isso tem a segurança, só que segurança aqui é caso de saúde mesmo, como estresse, cordas vocais sobrecarregadas, ameaças de todos os tipos dos alunos, e por aí vai... Sei que a maioria também não é a favor de salário baixos para o ciclo básico, mas na minha opinião mostrar a greve dos professores universitários ao invés de mostrar a situação da educação básica, é o mesmo que mostrar o apartamento do Michel Teló ao invés de mostrar a greve. As universidades pararam há algumas semanas, sendo que a educação básica está parada há anos.

Outro ponto é a questão da crise mundial. O país precisa urgentemente cortar gastos para enfrentar a crise, e praticamente dobrar os salários dos professores universitários nessa altura não condiz com a situação do país neste momento. Tem muito lugar de onde pode-se, ou melhor, deve-se cortar gastos nesse governo. Se fizessem isso decentemente daria para fazer nossa tão sonhada reforma na educação básica ao mesmo tempo que daria para segurar as pontas pelo menos um pouco na crise que está chegando, ou senão o desemprego e a miséria voltarão aos níveis da década de 80.

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